sábado, 18 de abril de 2009

O Perfil dos Vitoriosos (cultura banalizante)


Na certeza de que o domingo seria improdutivo, aderi ao “ficar de pernas pro ar”, assistindo no conforto do sofá, o Programa “Melhores do Ano”, do Domingão do Faustão, exibido no dia 12 de abril de 2009. E no Hortifruti dos artistas, muitas frutas foram trituradas injustamente...

De um lado, as compositoras-cantoras Ana Carolina e Vanessa da Matta carregando na mala a experiência do poetizar e originalidade. Do outro lado, Ivete Sangalo chamando Dalila e levando o público ao delírio.

Na santa guerra musical ganhou, pelo menos em programa popular, a “incultura brasileira”. Sim, qualquer manifestação artística é considerada cultura, por isso suavizo e afirmo que venceu a cultura banalizante dos trios elétricos. E Ivete é mesmo boa em muita coisa: pernas, voz grave, caras, bocas e sorrisos insinuantes. Carisma não lhe falta, audiência na Rede Globo, muito menos. “E quem não quer ter uma música de sucesso na novela das oito?”

Os “feras” da dramaturgia brasileira também se saíram bem, mas por não assistir novela, nem posso meter minha colherzinha no assunto.

Graças ao meu pai, no quesito música, eu tenho uma leve noção para diferenciar o péssimo e o excelente... The Beatles, Pink Floyd, Caetano Veloso, Tim Maia, Queen, Milton Nascimento, músicas clássicas, Tom Jobim, Elis Regina, Belchior, Cazuza, entre outros, apuraram meus ouvidos dentro ainda da barriga de minha mãe e me permitiram conhecer novos talentos numa fase mais madura. Por isso, minha idéia de talento vai além dos sucessos momentâneos, de duplas que entram e saem no cenário musical sem trazer algo de qualidade. Uma boa música deve ser - no mínimo - eterna.

No Programa, de consideráveis resultados musicais, apenas D’Back e Seu Jorge tiveram uma vitória merecida. O estilo diferenciado, as músicas de cunhos sociais e pouco apelativas conquistaram uma boa parte do público, porém, o que rolou por lá nem foi reconhecimento popular, foi falta de opção.

E com defeito de fábrica, mas aprovado pelo gosto da massa, os bonequinhos pré-moldados Victor e Léo desbancaram Vanessa da Matta, no tema Música de Novela. A compositora da MPB “perdeu a vez” tanto para o Axé (quando concorreu com Ivete); quanto pelo Breganejo (ou forró universitário, ou mela cueca, a definição é alguma coisa do tipo).

Mas entre as duplinhas, os músculos da Ivete e mau gosto popular, o maior disparate ficou por conta do quesito Atriz Revelação. A gaúcha Larissa Maciel, que interpretou brilhantemente bem a cantora Maysa, no seriado “Maysa, Quando Fala o Coração”, foi desbancada pela mineira Mariana Rios, da Malhação. Quem assistiu Larissa Maciel no seriado, sabe bem do que estou falando. Aliás, nem é necessário entender patacas alguma para perceber a grande banalização popular.

Depois de tudo isso, só espero que meu domingo termine bem, e principalmente, sem Big Brother Brasil!



















sexta-feira, 10 de abril de 2009

O Pior Castigo (um breve relato para não dizer que não falei do Rider)

Bastava ele aprontar e todos já sabiam: algum castigo iria receber! As opções de sofrimento eram quatro: o belisco fininho da mãe; o chinelada Rider do pai; esconder-se embaixo da cama (correndo o risco de apanhar em dobro) ou fugir. Definitivamente, deixar de aprontar não pertencia ao mundo maluco do moleque com a cabeça nas nuvens.
E encurralado, fazendo cara de anjo, ele acabava por escolher a mais materna e “acolhedora” das opções: belisco fininho da mamãe. E tudo era quase um ritual. A mãe mordia a boca de nervoso, prendia os pés do guri entre seus pés e tome beliscos. Voltando no tempo e tirando o ritmo do texto, lembro que certa vez o acompanhei para tomar vacina e a enfermeira disse para acalmá-lo: dói nada não, é igual um belisquinho. Pronto, bastaram apenas essas palavras para que carregasse pela vida inteira verdadeiro pavor de injeção.
As chineladas do pai? Foi somente uma vez que presenciei tal cena. Antes, porém, que eu tivesse pena, o garoto confessou, entre dentes, que apanhou pouco pelo tanto que fez. Sim, apanhou pouco, mas o suficiente para lembrar, com detalhes, da palmada oca do Rider “novinho em folha”. E nem havia preparação ou ritual: o pai varejava o “instrumento de tortura” de onde estivesse. De perto, doía, de longe, ardia...
Hoje o garoto cresceu e seus medos são outros, pois assim como as pessoas, as coisas também mudam. O pai não usa mais Rider; a mãe, por conta da tendinite, nem tem habilidade, seja para fazer crochê ou beliscar... A cama ficou pequena e não cabe um grandalhão embaixo dela e fugir já não faz sentido, ele é bicho solto querendo retornar ao ninho.

Hoje o pior castigo é o silêncio.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Fragmentos

Ele acorda de um sono tranqüilo, a cabeça não pesa, pois não é homem de ambições ou prisões capitalistas.
Levanta e se admira com o cantar do pássaro. Será que o comedor de alpiste de sua residência sabe entoar a paródia Meu Pequeno Cachoeiro?. Pelo intenso calor daquele dia, ouso dizer que sim.
O pássaro canta e Seu Nelson faz trova. Lucila, sua companheira de tantos anos, sorri e no amor se renova.
Ele faz uma pilhéria, um gracejo qualquer... E guarda suas trovas românticas onde ela possa se surpreender: embaixo do prato, dentro do sapato, no meio das rosas. Nelson Sylvan: perfeito amante em versos e prosas!
À noite, ele sonha com o monólito Itabira e com o Frade e a Freira.
De dia, admira as crianças com suas mochilas pesadas e as gritarias tão corriqueiras.
O Decano dos Trovadores se orgulha de nunca ter sentido dores e responde ironicamente a Cláudia Sabadini: “a hospital eu nunca foi, nem nunca senti nada”. E pensa: aposto que você, menina tão nova, já deve ter ficado algumas vezes hospitalizada.
Seu Nelson, exemplo de reserva moral e cultural de Cachoeiro de Itapemirim conversas “horas a fio”, pelo fio do telefone com o amigo Athayr Cagnin.
“Nelson Sylvan, Sempre e Sempre”, já dizia Higner Mansur em sua admiração pelo jovem de 97 anos... Sempre feliz com a vida, apesar de ela ser repleta de tantos desenganos.
Político militante, hoje observador mordaz, se identifica com o Integralismo: movimento político que participou tempos atrás.
Foi contemporâneo e companheiro de Rubem e Newton Braga. Quando adulto, no Centro Operário, suas pernas na incansável lida, subiam e desciam as escadas.
Lutou e luta pelos ideais ao qual se dedica por toda a sua trajetória e na Academia Cachoeirense de Letras vai fazendo a sua história.
Com um toque suave e sadio de comicidade, ele escreve sobre o calor infernal da cidade.
Nelson Sylvan, eternamente modelo de vida e exemplo de um homem de verdade.