Durante o tempo em que trabalha com livros usados, o senhor conseguiu formar algum leitor?
Até hoje não, mas continuo tentando por meio do incentivo à leitura e emprestando os meus livros. De dez livros emprestados, nove não voltam para as minhas mãos e toda essa falta de conhecimento poderia ser considerada inconsciência coletiva.
E o que seria inconsciência coletiva?
Usando uma linguagem leiga, para o leigo entender, o inconsciente coletivo é a bagagem que contém todos os hábitos de uma sociedade que não lê. Um exemplo disso é a própria cidade de Cachoeiro de Itapemirim, que apesar de ser intitulada como a Capital Nacional da Crônica, é uma sociedade que não lê. Falo isso pela constatação diária por ver uma multidão passar pela minha banca de livros e sequer enxergá-los.
O senhor consegue vender muitos livros?
Não. O meu recorde local são quatro semanas sem vender 1 livro sequer. Mas ao meu lado trabalha um moço que vende DVD pirata, onde quase todas as pessoas param e compram.
Quais são os maiores exemplos de inconsciente coletivo?
O desrespeito às leis de trânsito, não emprestar e nem doar livros usados. Mas o ápice da inconsciência ocorre em época de eleição, em que os corruptos são eleitos e reeleitos. Afinal, o ignorante é movido pelo inconsciente coletivo e uma das leis fundamentais, assim como o instinto da sobrevivência é a lei da semelhança (os semelhantes se atraem).
Quais livros não podemos deixar de ler?
Recomendo a leitura de “Psicologia das Multidões”, de Gustav Lebon, “Jogo e Estrutura das Personalidades”, de Pedro A. Griza; “O Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley e “Vidas Secas”, de Graciliamo Ramos.
O senhor poderia deixar um recado aos amantes da leitura de Cachoeiro de Itapemirim?
Deixo um pouco de algumas frases que gosto. Monteiro Lobato escreveu: um país se constrói com homens e livros. Jesus pregou: amai-vos uns aos outros como vos amei e praticai a caridade. Gandhi falou: todo ser vivo é o nosso próximo, incluindo os seres vivos e as plantas. Tolstoi disse: faça o bem o mais que puder. Eu, Alejandro, repito que quem segura livro é inimigo da humanidade. Essas são verdades filosóficas ditas em diferentes épocas, por homens diferentes, de culturas diferentes, mas que falam a mesma língua, que é a língua do amor.
A entrevista foi realizada em dezembro de 2007, época em que eu era repórter do Jornal O FATO. Atualmente, Alejandro não se encontra mais em nossas ruas... Foi buscar outros caminhos.