quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Embaraços do Verão


“Vem chegando o verão, um calor no coração...”


Bem-vindos a estação que faz da contradição sua marca registrada. Se chove, são pingos pra dar enchente, se faz sol, é do tipo que seca o oceano. Estação em que as pessoas se vestem mais à vontade e se sentem menos presas. Concordo, mas quem dera se eu pudesse aderir a barriguinha de fora e aos shorts bem curtos! O pneu acoplado ao meu corpo e as mais novas celulites – provenientes do inverno passado – não me permitem tamanha exposição.


Mesmo assim, insisto em ir à praia, deitar na canga e perceber, tristemente, que as pessoas saem correndo quando me vêem que nem um siri-fantasma-branco estirado na areia. Então, me levanto, me escondo e passeio pelas pedras de Piúma, mas os olhares de espanto dos veranistas denunciam: eles me confundiram com uma lagartixa!E se o problema é a minha brancura, o negócio é caminhar, pois assim tomo sol disfarçadamente sem que ninguém perceba minha real intenção: ficar morena. Só que meu sonho, ou melhor, meu desejo de morenice escorre por água abaixo, porque basta meia hora de sol escaldante para que eu fique mais vermelha que o elefante do extrato de tomate da Cica. E tome água de coco, pois sempre desidrato.


Ah! E os axés dos trios elétricos! Quem me vê dançando, berrando e me esbaldando (encorajada pelos goles a mais) nem imagina o quanto detesto aquelas músicas. Vamos na “onda, onda, olha a onda! Cuidado, o Tubarão vai te pegar!” Tubarão? Nas águas rasas de Piúma? Só mesmo se estiver encalhado. Aliás, água é o que sempre falta no litoral, principalmente na minha garganta. Será que confundo os copos d’água com garrafas de cerveja? Sei lá, mas os donos das barracas já conhecem minha preferência ao responder pro garçom: qualquer uma, desde que esteja gelada, a garota não é exigente!


Chega à noite e não sei o quê fazer, nem para onde ir. Será que me espremo com os mimosenses nas Feiras do Sol? Ou vou tomar um sorvete com todas aquelas coberturas que certamente me farão ver vagalumes no outro dia? Talvez uma boite com as mesmas músicas que ouvi durante o ano todo! Eu sempre fico com a melhor, mais típica e “tranqüila” das opções: um lual. E o que vestir? Tudo me arde e me coça, a insolação me deixa com sono e na fossa. É feio ficar de biquíni, durante a noite, enquanto todos estão arrumadinhos? Mas se eu for pra casa colocar uma roupa sei que vai dar preguiça e abraçarei o travesseirinho...


Meio embaraçada eu durmo, acordo e não entendo nada. Meus familiares querem fazer uma churrascada. E coisa que não engulo na praia são os churrascos dentro de quintal. Sou a última a chegar e a primeira a sair. Não que eu não queira a presença deles, mas é que ficar em quintal – sem olhar para o mar – é bem menos atrativo que comer um peroá lotado de gordura velha, e mesmo assim delicioso, nos quiosques de frente para as ondas e com os pés na areia. Passamos o ano inteiro trabalhando em salas fechadas e olhando para as mesmas caras e, quando temos a oportunidade de conhecer gente nova vamos nos trancafiar em quintais? Never, never more... Vamos à la praia, ô, ô, ô, ô, ô...

E o verão vai terminando, enquanto meus olhos fazem enchente ao se despedirem do Monte Aghá. E os embaraços do verão vão embaraçando meu cabelo tingido, ventando em minha saia, atrasando minha hora de dormir por conta da gandaia. Eu me embaraço em grande paradoxo, não me entendo e me enrolo... Sequer suporto essa estação, mas bem que eu gostaria – que nessas horas de despedida – o sol me pegasse no colo.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Não Engulo


Xerox mal tirada
Carne mal passada
Fila de espera sem assento
Ralar a bunda no cimento

Ar condicionado ressecando o nariz
Medo de ficar por um triz
Covardia com animais
Enchentes e temporais

Dormir toda tapada
Debochar de uma desgraça
Dar voto nulo
Ouvir disco "chulo"

Salgados gordurosos
Extermínio de judeus e leprosos
Curva sem sinalização
Trocar um livro por televisão

Falar da vida alheia
Não notar a lua cheia
Pensar só no futuro
Desprezar o claro ou o escuro

Casas com barata
Leite com nata
Filme X platéia falando
Dormir e acabar não sonhando

Bebidas mais caras
Comidas mais raras
Bom senso, o bom gosto
Celular que cai do bolso

Quem diz que sou cachaceira
Não sair na sexta-feira
Todo vício em remédio
Dormir de tanto tédio

Desprezar uma idéia original
Trio Elétrico no carnaval
As novelinhas da Rede Globo
Willian Bonner e sua cara de bobo

Casamento sem amor
Problema nos rins: grande dor
Drogas no meu bairro, em minha esquina
Passeata do flamengo e buzina

Qualquer tipo de número ou conta
Não "fazer o quatro" quando estou tonta
Coca-Cola sem gás
Esquecer de quem ficou para trás

Enfim, não engulo
Abandonar livro e poesia
E estudar para a prova de Economia

sábado, 9 de agosto de 2008

CARTA DA LUA (para minha prima Gisela)



Por que estou parada aqui? Já era para eu ter ido embora. Será que preciso que me olhes mais uma vez. Sei, eu gosto do jeito que me olhas e me visita de madrugada. Te vejo como um ser humano na ansiedade de conseguir o que se quer.
Ei Gi... Eu estou aqui, esperando por seus olhos vidrados. Ora cheia... Cheia de problemas, ora vazia... Vazia de lamentações, ora crescendo... Crescendo para os ensaios da vida, ora minguando... Minguando diante da enorme pequenez do mundo.
Sou como uma gota na imensidão. Sou o vestígio do que fui pelas madrugadas aparecendo numa manhã quase nublada. E, o que fui pelas madrugadas? Eu fui a Rainha da Noite entre tantas estrelas, fui o seu motivo para chegar até a janela e me ver. Por quantas e quantas vezes tenho banhado as suas lágrimas. Ah! Se soubesses o quanto eu a conheço talvez perdesse o encanto que tens por mim, porque na verdade não sou nada demais, se pensares bem sou apenas uma lua que cintila.
Será que gostas de mim por minha determinação, pois venço os prédios e, quando desejo, escondo-me através das nuvens "tapando a cara" de vergonha diante da frieza dos seres humanos. Passo por tubulações, mas não desisto. Continuo aqui, vendo mais de mil gerações crescerem e desaparecerem tão inexplicavelmente quanto surgiram.
Numa conversa com as estrelas descobri que foi Deus quem me fez e, que esse mesmo Deus fez você, então está explicado o porquê de nossa sintonia. Mas, ao mesmo tempo em que descobri essa coisa linda, também ouvi algo lamentável de uma estrela bem antiga. Ela soube que ensinam nas escolas que eu não possuo vida, e que sou desprovida de qualquer coisa que possa valer a pena (deixa para lá, quem sou eu para discutir as idéias dos homens), o que sei é que as crateras que possuo em mim são justificadas pela eterna falta que minhas filhas me fazem.
Seria gratificante que dissesse sempre para as pessoas o quanto gosta de mim, sei que elas me enxergam com outros olhos. Já notei que me esperam e, muitas vezes, choram quando não conseguem me ver. Queria ajudá-las, mas não posso, o máximo que posso fazer é demonstrar através de minhas fases que as coisas podem mudar. Acho até que elas me entendem, mas sentem-se perdidas com minha amarga ausência.
Já te vi muitas vezes chorando pela falta que eu lhe causo, por quanto tempo deve ter xingado aos céus por tamanha tristeza e indignação. Nessas horas, eu morria por dentro e por fora. Sei que não sou a causadora de sua dor, mas sou culpada porque agora não tenho mãos para secar suas lágrimas, nem o abraço para te acalentar.
E é por isso que sempre apareço cada vez mais bela, descobri que isso te comove. E, como é lindo o seu sorriso e a sombra de sua saudade refletida no chão. Queria muito ter pernas, não só para seguir seus passos, mas sim para voltar a caminhar ao seu lado.
Sou a sua lua, sua marca registrada, a mesma lua que enlouquece os amantes num espaço próximo ou distante. Sou o enigma das coisas que diz e não termina de dizer e isso me deixa submersa tentando entender suas mensagens, assim como os amantes tentam decifrar minhas figuras.
Sou a sua lua de sorte, sua visita mais desejada. Sou a testemunha do maior espetáculo da natureza: seus olhos claros, esperançosos e aflitos me esperando!
Então, depois de milhões de anos de espera e de admiração em todas as suas reencarnações, acabei conhecendo uma estrela cadente bem doidinha que não parava de piscar. A tal da estrelinha disse que me ajudaria no que fosse necessário e me deu até a idéia de escrever-te, veja só! Ela foi para o seu planeta para aprender a escrever, a ler e a sentir amor, passou uns dias escondida vendo como você era dentro de casa, no trabalho, com os amigos, com o seu marido e familiares. Enfim, essas coisinhas que infelizmente, não consigo mais ver. Aí, a estrelinha voltou cheia de história para contar. Por isso, estou enviando a minha cartinha pelas mãos dela. E Gisela, receba essa carta com todo o carinho e me encontre onde estou feliz, me procure no céu!