Elevadores de arranha-céus levando homens às alturas; livros de auto-ajuda nas mãos de quem não ajuda ninguém com sequer um vintém; nas ruas em que ando apressada por todos os dias, leio releio a frase pixada no muro: Jesus Voltará! Mas como voltará, se ensinam que Ele está dentro de nós? E se voltar? O mundo globalizado e alienado não acreditará em Sua Volta. São tantas crenças e descrenças. Voltaria reencarnado? Ressuscitado? Apenas o espírito? Com roupas de Ghandi? Meditando? Psicografando? Com o cabelo grande? Epa! Ouço roqueiros, alegremente, apostando que sim... Sei, tudo são balelas, e Ele não virá, porque já está... Mesmo que, às vezes, pareça brincar de pique-esconde com a menina Isabella que literalmente “caiu e foi jogada” numa brincadeira, sem contar com qualquer mão que pudesse salvá-la – mas isso é coisa que assistimos nos filmes de Super-Homem, mas se até ele caiu do cavalo, quem poderá nos salvar? Talvez, o Chapolin Colorado.
E da frase “pixada” escorre uma tinta vermelha e escura que se comparam as marcas de sangue nos asfaltos, em acidentes causados pela imprudência dos demais. Jesus estava lá? Creio que sim, pelo menos foi fotografada a Sua imagem esculpida em madeira, retorcida por conta da violenta batida do carro.
Com um pouco de sensibilidade, podemos facilmente encontrar na boleba dos olhos das crianças um Jesus que ainda exista e persista; na calma de uma senhora atravessando a rua para comprar – quem sabe pela última vez – o pão de cada dia, naquela padaria sempre lotada em que os vendedores nem reparam os clientes mais antigos. Amigos? Jesus também está neles, nos gestos de ajuda, nos tirando do sufoco, e nos colocando dentro dele para que possamos aprender, nem que seja na dor.
E tantas coisas poderiam me parar! Mas daquele muro “pixado” nunca me esquecerei. Não me esquecerei das letras de revolta transbordadas com o vermelho da violência em paradoxo com o verde na alma de esperança, naquele beco qualquer suburbano e “sujismundo”. Não, eu não pararia para ver um outdoor com as roupas de marca, nem com as roupinhas de sucesso, nem com a foto do carro do ano (ah! essas jogadas de marketing tão sedutoras!).
O que me fez parar e mexeu com o coração foi simplesmente o muro pixado. E onde está Jesus? Nos que tentam impor sua verdade ao “invadir” a residência e resistências das pessoas? Ou nas igrejas pentecostais, que aos berros, ensurdecem o que deveríamos escutar: o farfalhar dos pardais.
Por tanta dor e sofrimento, por tanta vontade de ouvir o canto dos pássaros, pelo imenso desejo de que as coisas realmente melhorem... Acredito mesmo que Jesus está dentro de nossa vontade de fazer algo de bom. E nesse mundo hipócrita isso já está de bom tamanho! Pois se fôssemos Ele, já teríamos nos abandonado há muito tempo.
3 comentários:
Renata, Jesus não fica vigiando o comportamento de cada ser humano. Nós temos o livre arbítrio. Quem faz de seu corpo um templo, nele habitará o Filho de Deus. E quem O tem, praticará a humildade, será manso de coração, dará amor mesmo àquele que o apedreja... Sonho? Utopia? Olhe em volta de ti - há muitos com o coração igual ao teu. Tu tens um coração justo, e isso faz a humanidade melhor...
Nossa, Rê!
Que texto lindo! Sabe, eu acho que no fim das contas sou panteísta, rs... Acho que fé é algo muito subjetivo, muito íntimo, e que no fim das contas a palavra chave é respeito.
"...que aos berros, ensurdecem o que deveríamos escutar: o farfalhar dos pardais."
Sempre pensei assim mesmo. Sempre achei que a melhor forma de agradecer era simplesmente sentindo e gostando muito sinceramente. Pra mim não faz sentido essa demonstração pública de gratidão (e por vezes invasiva). Mas qualquer coisa a gente veste uma fantasia de gorila e entra no lugar dançando. hahahah...
beijão!
Essa coisa de religião é tão subjetiva, não é? Já causou e causa tantos conflitos. Não sou lá muito de igreja não, mas creio que qualquer ateu/pagão/whatever de bom coração vale mais do que um falso beato.
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