sexta-feira, 24 de julho de 2009

Despedida (in memoriam a Tia Bebel)

Quando a transitoriedade da vida nos pega de surpresa, nada mais nos resta do que tentar entender. Quando não entendemos, ou quando o sentimento de saudade teima em aparecer, qualquer lembrança é uma dor a mais. Minha forma de sentir falta é externada pelas letras dessa poesia que jamais pensei em escrever um dia...

Tia Bebel se arrumava,
dava um retoque em seu rosto de boneca,
mirava-se no espelho, penteava o cabelo.
Será que ia à festa?

Uma vida em cinqüenta anos,
sempre sorrisos e muitos planos.

A tatuagem de escorpião na canela
ficou apenas no sonho.
Contemplava o morro Itabira da janela
cantarolando o Rei Roberto: “eu te proponho”.

Sorriso aberto, dentes brancos e escancarados,
mas se o mal humor chegasse, logo eles seriam fechados.

Voz alta, presença alegre e constante.
Se era caprichosa? Perguntem a sua estante.

Sabonetes glicerinados produzidos por suas mãos.
Pintar quadros era mais uma de sua distração.

Reunia a família, agregava sentimentos.
Sentia saudades das filhas que moram tão longe.
Que lamento!

Poetisa num simples diário,
amante do Recanto das Letras.
O que seria de mim se ela não existisse?
Eu mesma respondo: apenas um livro sem letra!

A casa imensa,
o coração maior ainda,
na frente do papel ela pensa
e a noite estrelada se finda.

Amanhã ela vai partir
e lágrimas vai deixar.
Amanhã, nosso mundo vai cair,
mas o céu vai comemorar.

Hoje, ela sobre, com preguiça, a escada da casa,
amanhã, subirá aos céus, na companhia de uma asa.

À noite, pega o terço e reza...
Por que ir embora tão depressa?
Ela acorda e segue viagem...
Vai não, tia! Pare de bobagem...

Fica mais um pouco!
Vamos para a casa da vovó?
Não. Eu prometi me encontrar com a lua,
Não posso deixá-la tão só!


Oh! Tia Bebel, mas como é teimosa!
Que dia faremos a nossa poesia e prosa?
E a crônica? Quando vai pintar os quadros das meninas?
E o fogão à lenha na roça? O quentão para a Festa Junina?

Renata, garota ansiosa! Tira essa revolta do coração,
cadê sua crença espiritual de que nos veremos noutra dimensão?

Ah! Vê se não me desaponte mais,
trabalhe bastante e não chore mais.
Onde já se viu uma italiana
entregar os pontos e pensar para trás?

Leia meus versos, sinta meu cheiro,
saiba que sinto falta da família,
dos amigos, do macarrão do papai e da mamãe...
Hum! O amor é o verdadeiro tempero.

Agora tenho mesmo que ir, prometi não demorar,
pois lá encima uma linda harpa espera:
a minha voz, o meu sorriso, o meu cantar!

2 comentários:

Felipe Guasti disse...

Aqui deixo o meu minuto de silêncio.
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Ótima poesia. Amei os seus trabalhos.

Abração
Felipe Guasti

# Poetíssima Prida disse...

Eu senti teu blog, gostei.

Abraços.