O circo está armado. Os leões vigiam a caixinha de dinheiro no altar. Na platéia, o povo da fé inabalável solta urros indecifráveis. E em Mimoso do Sul mais um bairro sofre com a síndrome do “Xô, Satanás!”.
O que entendo de religião é o mesmo que sei de números binários: nada! Sobre o assunto, li uns três ou quatro livros, mas cada um puxando o terço, o santo e a bíblia pro seu lado.
E sem puxar farinha para lado algum, só procuro entender porque preciso puxar o fone de ouvido durante as reuniões de certas igrejas Pentecostais. Como é estressante conviver, todos os dias, com escândalos noturnos, ininterruptamente, das 19h00 às 21h30.
Mas se de religião entendo pouco, de Direitos Humanos entendo bem, e afirmo que todo indivíduo tem direito à tranquilidade, principalmente no lar, o que não acontece dentro das residências de alguns bairros de Mimoso, que convivem com os berros dos fiéis.
Geralmente, a rotina lá em casa é algo normal: meu pai faz do controle remoto, a distração; minha mãe, de suas agulhas de tricô, o divertimento artesanal; meu irmão, da caneta e caderno, o sossego; e eu, do notebook, o meu emprego.
E tudo funciona assim, até que chega o momento em que começam os berros e... Papai utiliza o controle remoto para abaixar o tom da voz dos “irmãos”; minha mãe pensa em furar os tímpanos com a agulha de tricô; Henrique escreve cartazes com os dizeres “Deus não é surdo!” e eu bem queria que a tecla do computador interrompesse a gritaria descomunal do pastor.
Assim, nos resguardamos apreensivos... Seria tolice confessar uma curiosidade? Para onde vai o “bicho ruim” que eles mandam sumir? Espero que o “monstrengo” não queira passear nos jardins “silenciosos” de minha casa...
Na apreensão, também viramos personagens desse teatro onde ler um livro ou assistir TV é algo fora de cogitação.
E a história sem solução vai se arrastando do jeito que a demora convém, Deus não é surdo! Deus ouve muito bem! E em silêncio eu respondo: AMÉM!