terça-feira, 24 de março de 2009

Inconsciente Coletivo (Entrevista)

Há 11 anos morando em Cachoeiro de Itapemirim e há cinco anos e meio instalado na cidade como vendedor de livros usados, Alejandro contrasta com a indiferença dos que se intitulam leitores na Capital da Crônica.Ele explica o inconsciente coletivo e critica a sociedade que prende os livros e os exibe como troféus, sem sequer emprestá-los e nem passar o conhecimento para o próximo.

Durante o tempo em que trabalha com livros usados, o senhor conseguiu formar algum leitor?
Até hoje não, mas continuo tentando por meio do incentivo à leitura e emprestando os meus livros. De dez livros emprestados, nove não voltam para as minhas mãos e toda essa falta de conhecimento poderia ser considerada inconsciência coletiva.

E o que seria inconsciência coletiva?
Usando uma linguagem leiga, para o leigo entender, o inconsciente coletivo é a bagagem que contém todos os hábitos de uma sociedade que não lê. Um exemplo disso é a própria cidade de Cachoeiro de Itapemirim, que apesar de ser intitulada como a Capital Nacional da Crônica, é uma sociedade que não lê. Falo isso pela constatação diária por ver uma multidão passar pela minha banca de livros e sequer enxergá-los.

O senhor consegue vender muitos livros?
Não. O meu recorde local são quatro semanas sem vender 1 livro sequer. Mas ao meu lado trabalha um moço que vende DVD pirata, onde quase todas as pessoas param e compram.

Quais são os maiores exemplos de inconsciente coletivo?
O desrespeito às leis de trânsito, não emprestar e nem doar livros usados. Mas o ápice da inconsciência ocorre em época de eleição, em que os corruptos são eleitos e reeleitos. Afinal, o ignorante é movido pelo inconsciente coletivo e uma das leis fundamentais, assim como o instinto da sobrevivência é a lei da semelhança (os semelhantes se atraem).

Quais livros não podemos deixar de ler?
Recomendo a leitura de “Psicologia das Multidões”, de Gustav Lebon, “Jogo e Estrutura das Personalidades”, de Pedro A. Griza; “O Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley e “Vidas Secas”, de Graciliamo Ramos.

O senhor poderia deixar um recado aos amantes da leitura de Cachoeiro de Itapemirim?
Deixo um pouco de algumas frases que gosto. Monteiro Lobato escreveu: um país se constrói com homens e livros. Jesus pregou: amai-vos uns aos outros como vos amei e praticai a caridade. Gandhi falou: todo ser vivo é o nosso próximo, incluindo os seres vivos e as plantas. Tolstoi disse: faça o bem o mais que puder. Eu, Alejandro, repito que quem segura livro é inimigo da humanidade. Essas são verdades filosóficas ditas em diferentes épocas, por homens diferentes, de culturas diferentes, mas que falam a mesma língua, que é a língua do amor.

















A entrevista foi realizada em dezembro de 2007, época em que eu era repórter do Jornal O FATO. Atualmente, Alejandro não se encontra mais em nossas ruas... Foi buscar outros caminhos.

3 comentários:

Paixão, M. disse...

Nossaaa!! Renatinha! Eu lembro do Alejandro! Meu deus, batíamos altos papos ali perto do CIAC, rs... Já trocamos livros, já recebi muitas dicas, e lembro-me muito bem dele me dizendo essa frase mesmo que você citou, com seu sotaque peculiar: "quem segura livro é inimigo da humanidade"

Que legal revê-lo de novo por aqui!

Espero que ele esteja bem, onde quer que esteja. Lembro que vivia sonhando em ir pro Sul.

beijos!!

Rose Tunala disse...

Oi Renata,
Seu trabalho ficou show.
Encontrei seu link nas fotos do ENCUCA no Orkut, vim lhe conhecer e gostei de seu trabalho.
Sou também de Cachoeiro, convido você para vir conhecer minhas letras.

Beijos

Nelson Costa disse...

Taí, um resumo muito legal sobre INCONSCIENTE COLETIVO.
"O desrespeito às leis de trânsito, não emprestar e nem doar livros usados. Mas o ápice da inconsciência ocorre em época de eleição, em que os corruptos são eleitos e reeleitos. Afinal, o ignorante é movido pelo inconsciente coletivo e uma das leis fundamentais, assim como o instinto da sobrevivência é a lei da semelhança (os semelhantes se atraem).
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