sábado, 20 de março de 2010

Blá, Blá, Blá de Fim de Ano


Natal: época de paz, harmonia, de contato com a família e reaproximação, mas nem sempre isso acontece, geralmente é consumismo, mesa farta, uns “arrancas rabos” e porres de vinho...

Na televisão, o caro peru comemorativo com o selo “abençoado” da Perdigão. No sofá de casa, alguns falsos caridosos comentam sobre os meninos deitados nas ruas encima de papelão: “Isso é um absurdo! Tanta gente passando fome e a televisão mostrando essa fartura!”.

O comércio sempre fecha tarde e grande parte dos funcionários das lojas sequer experimenta a ceia de Natal, pois chegam aos lares enfastiados de tanto embrulhar presentes que sequer têm forças para desembrulhar os presentes que recebeu. Eles tomam um banho e “puxam um fio” com o DDD: Descansam, Deitam e Dormem. O dingobell’s? Ah! Fica para o próximo ano!

A coisa óbvia das comemorações de fim de ano é que a rolha de champagne certamente vai cair na cabeça de alguém ou estraçalhar um copinho de enfeite (daquele que é objeto de ciúme da mãe ou da avó e só sai do armário de ano em ano). Muitos vão engolir bebida cara, sentir um gosto horrível, mas fazer cara bonita; tantos vão tomar vinho barato e ser feliz a noite toda; uma boa parte vai chorar e sentir a falta de alguém; o neto mais velho vai dedurar que o Papai Noel com o bigode caído é aquele tio chato e gordo do dia a dia; tem gente que vai quebrar nozes atrás da porta e levar esporro da tia (alô, tia Leila).

E as superstições do Ano Novo? Meu Deus! É tanta crendice maluca que nem sei mais em quê ou em quem acreditar... Roupa preta dá azar; usar calcinha vermelha é bom para atrair (ou quem sabe trair) o namorado; sete pulinhos na água garantem uma vida equilibrada (mas, por favor, não pule se estiver bêbado porque o desequilíbrio é certo). E os presentes para Iemanjá? (eu não sabia que a “Rainha do Mar” usava pulseira de ouro). E a tal história de que comer galinha em dia de Ano Novo faz com que o sujeito ande para trás financeiramente falando, pois é, disseram que só podemos comer bicho que anda pra frente e não bicho que “cisca” pra trás. Ai, Jesus!

E na fartura toda, não pode faltar a lentilha: sinônimo de prosperidade! Tadinha dela, sempre tão procurada no fim de ano e esquecida nas outras ocasiões. E a rabanada? É recorde de obesidade. Ninguém come apenas uma e por mais que esteja bem feita, alguém sempre vai reclamar que está encharcada de gordura e entupindo as veias da família e do coração.

E por aí vai... A janta do Natal vai se transformar no almoço do outro dia. O “rei” Roberto Carlos com o mesmo cabelo esticado e trejeito de “quero ser malandro, mas não sou” vai estar na Globo e vamos confessar: sem tantas “EMOÇÔES”. A XUXA também. O “ESPECIAL” do melhores cantores (lixo comercial) vai pintar na tela com o pior do Playback. O Faustão com a gravatinha borboleta à la garçom vai anunciar que logo logo meia noite vai chegar ... E a sétima arte com os filmes “Esqueceram de Mim” 1, 2, 3 em clima de inverno sendo passado pela milésima vez em nosso país (orgulhosamente país tropical).

Agora, meu caro leitor, se neste fim de ano, você quiser ganhar uma grana extra, vá, desde já, se especializando em astrologia e numerologia, porque o que esse povo tá ganhando em dinheiro para “acertar” a sorte dos outros não é brinquedo... Em todos os canais de TV e revistas do mundo só se fala disso: galho de arruda atrás da porta é bom pra blá, blá, blá; moeda de um centavo na carteira traz blá, blá, blá; mastigar romã pode blá, blá, blá; olhar para o espelho e dizer que é uma pessoa nova vai te fazer blá, blá, blá...

É meu caro, lá vai um conselho de besta: cai nessa não! Trabalhar e lutar para que as coisas dêem certo em sua vida é coisa que tem mais valia que perder tempo com futilidades. Opa! E por falar em futilidade, tá na hora de ir embora, já é quase meia noite, os fogos de artifício estão explodindo e dizem “que dá azar” passar o Ano Novo digitando (ainda mais de roupa preta, de blusa do lado avesso e com o quarto desarrumado). Vou é pra beiradinha da praia, quem sabe eu dê a sorte de “catar” uma pulseira de ouro da Iemanjá...

Um comentário:

Bosco disse...

Parabens pela perspicacia, Renata. Adorei a cronica!