Sozinha num apartamento
Tenho os amigos em fotos na parede
Os familiares na lembrança e na mala lotada
O violão nas costas e em mãos cansadas
Ouço vozes que são ecos
Eu me desconcentro e me desconecto
Faço rimas para o encanamento
Compro guarda-chuva: está chovendo!
Subo atrapalhada a escada
Há ninguém me esperando de madrugada
Mexo e remexo as gavetas
Faço um pano de chão da camiseta
Cuido da jabuticabeira
E da despensa lotada de bobeira
Tento abrir o atum enlatado
Cadê o abridor? Sumiu, o desgraçado!
As visitas são feitas por telefone
Sem ninguém gritando meu nome
Percebo – tremendo – que o chuveiro não é quente
“Mamãe, vem morar comigo e me traz a toalha,
Minha boca já está dormente!”
Rezo para que não apareçam baratas
Comprei Cotrim, Raybom e veneno da mata
Me mato se ela não morrer e mexer as patas
Não preciso trancar as portas do banheiro
Quem que vai reclamar do cheiro?
Vou ter mais tempo pra gastar
Loucuras pra rimar
E pessoas pra ligar
Sozinha num apartamento
Eu paro, respiro, choro e penso:
Eu paro, respiro, choro e penso:
Volto para Mimoso ou compro um lenço?