quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Sozinha num Apartamento


Sozinha num apartamento
Tenho os amigos em fotos na parede
Os familiares na lembrança e na mala lotada
O violão nas costas e em mãos cansadas
Ouço vozes que são ecos
Eu me desconcentro e me desconecto
Faço rimas para o encanamento
Compro guarda-chuva: está chovendo!
Subo atrapalhada a escada
Há ninguém me esperando de madrugada
Mexo e remexo as gavetas
Faço um pano de chão da camiseta
Cuido da jabuticabeira
E da despensa lotada de bobeira
Tento abrir o atum enlatado
Cadê o abridor? Sumiu, o desgraçado!
As visitas são feitas por telefone
Sem ninguém gritando meu nome
Percebo – tremendo – que o chuveiro não é quente
“Mamãe, vem morar comigo e me traz a toalha,
Minha boca já está dormente!”
Rezo para que não apareçam baratas
Comprei Cotrim, Raybom e veneno da mata
Me mato se ela não morrer e mexer as patas
Não preciso trancar as portas do banheiro
Quem que vai reclamar do cheiro?
Vou ter mais tempo pra gastar
Loucuras pra rimar
E pessoas pra ligar
Sozinha num apartamento
Eu paro, respiro, choro e penso:
Volto para Mimoso ou compro um lenço?

sábado, 20 de setembro de 2008

Sem nome de flor, intitulada Amor


Conheço uma menina que nem tem
nome de flor
porque pra ser flor
não precisa ter nome ou sobrenome

Basta ter cheiro, sorriso, carinho
na paz, apenas pétalas
na guerra, a dor do espinho

A flor não é de plástico
ela pulsa, vive, é serena
prima Luyla, neta de Vovó Helena

A flor sempre regada
faz borbulhas e gracejos
não brota na calçada
ela nasce com amor e beijo

Eu conheci uma flor
que brotou no meu jardim
que mesmo pequenininha (do tamanho de um botão)
veja só! Sabe até cuidar de mim!

Flor de caneta na mão
Flor menina-poeta
Flor oito anos de vida
Flor crescendo...
Flor alcançando sua meta

Linda flor que lê poesia
e fica toda prosa
vou adentrar no teu jardim
e lhe oferecer uma rosa




quarta-feira, 17 de setembro de 2008

COTIGALHANDO


E viva aos olhos claros e diretos da professora Sarah Passabom!!!


O que é cotigalhar?
É gargalhar e gargalhar

Gargalhar com tristeza a mesmice do cotidiano
É mostrar o que somos apenas “embaixo dos panos”
É dar às caras, virar a bunda e arreganhar os dentes
É brotar nos palcos como uma semente

Os palhaços entram em cena e os normais se incomodam
O espaço do palco é amplo, mas os artistas não se podam
E no meio da platéia eles se intrometem e se acomodam
As cortinas não se fecham, mas as cadeiras nos enxotam

Quando os artistas se enfeitam, a expectativa nos convém
Quando eles representam, percebemos que somos um zé ninguém

São batons, pinturas, roupas e adereços
É meu olhar admirado que nem sempre reconheço
E é o calor do dia-a-dia esquentando a bafurinha
É o efeito estufa estufando a barriga da palhacinha

Shakespeare dizia que a vida é um palco errante
Os convidados sobem ao palco e fazem parte desse instante
Uns servem de espelho, outros de vaso sanitário
Uns dobram os joelhos e quem se esconderia no armário?

São mímicas, mágicas, banho, almoço e calor
São viagens, segredos, curtição e dor de amor
São os gestos implícitos e expressos
Expressões ritmadas num mundo desconexo

São as cenas em que nos encaixamos
Nos deslizes que tanto nos envergonhamos
Somos cachorros famintos e no cio
Somos a coleira de um mundo que está por um fio

A problemática da fome, violência e pecado
Escurecem o palco de um mesmo lado
E fazem da dor de cotovelo e do lenço encatarrado
Apenas um detalhe romântico e ultrapassado

São as faces da sociedade representadas na cara dos alunos
São os pecados capitais tirando os artistas do prumo
É o amanhecer e a insegurança do que está por vir
É o anoitecer, o fim do espetáculo e o público a aplaudir

Cotigalhando os artistas se despedem
Cabeça para cima e para baixo - assim eles agradecem
E aos que saíram do comodismo e foram ao teatro
Os “Cotigalheiros” fazem até uma prece


quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Revertério da Auto Ajuda

Mofaste... (Quase Mofatti)
Mofastes nas trevas
E virastes folha rasgada
do livro Renata Mofatti

Desiste do alpiste, ô “seu” passarinho!
Desiste do céu azul, ô tempo nublado!
Desiste do "alô", senhorita telefonista!
Desiste do volante, ô senhor motorista!
Desista da rima, ô reles poeta!
Desista da dieta, ô magrela anoréxica!

Desistas tu também
Não te espelhes em Sílvio Santos
Hoje tão rico
Antes um "pobrinho"
Um Zé Ninguém

Não olhes para o lado
Nem para o ex-amigo que tenhas te magoado
Hoje ele te engoles mais bonito
Mais feliz e... mais amado

Desaprendas as coisas dos livros
Aprendas as sujeiras nas gretas do mundo
Sejas um cão sarnento
E vanglories teu corpo imundo

Não use tecla, tinta ou caneta
Esqueças de tua meta
Sejas um livro sem letra

Minutos de Sabedoria ou Quem Mexeu no Meu Queijo?
O Caçador de Pipas ou Paz é o Que Almejo?
Seja como for, auto ajuda ou despejo
Prefiro seguir meu caminho
E dar tapas em quem gostaria de dar um beijo