segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Minicontos de Verão O Barquinho e os Barquinhos Conto 1 (Balanço)

Vento, sombra, dia de luz... Maysa e a canção O Barquinho no fone de ouvido. Lá fora, ouço Requebras, Éguas Pocotós, Dança da Bundinha. E nada disso importa... A mãe acompanha o balanço do filho. Ele aponta para o ultraleve, ela beberica água de coco e a brisa permite o esquecimento das finanças, do sufoco.
Ainda é Janeiro... O barquinho desliza, os turistas tão poucos - por conta das enchentes - vão se reconhecendo pelos sotaques e placas dos carros em destaque.
O barquinho continua beijando o mar...

* Dedico os seis continhos de verão pra moça que tem "gosto de água e de amigos": Karina Peixoto, exemplo de mãe, cara do sol e de dia de luz, água da praia batendo na canela e cabelos ao vento... Procê merrrrrrmo amiga!!!


Conto 2 (Sem Metal)


A moça solta a juba e o vento causa reboliço. Ela admira o namorado, sorri e volta a prender a cabeleira de uma forma tão forte, como se quisesse segurar a vida ou à própria morte.
Maysa continua cantando no fone de ouvido, me entristeço ao lembrar que a canção também não é eterna. E volto, repito, retorno O Barquinho mais de uma vez. Agora - nos Quiosques - Ivete da Perna Grossa mia qualquer coisa parecida com Berimbau Metalizado. No fone, o violão não tem metal, é apenas sentimento e harmonia, mas nada disso importa... Vivemos num país de BBBosta.
O Berimbau, a Poeira e a Ladeira arrastam mesmo toda a massa e a bunda da mulher corcunda balança, enquanto o cérebro atrofia... E nada disso importa hoje em dia.

Conto 3 (Melhor na Fossa)

O vendedor de picolé não sabe se coça o saco ou se gasta as moedas em mais uma cachaça.
É cedo e o barquinho leva os turistas para as ilhas, que ilhados neles mesmos, esboçam sorrisos diante da natureza.
O picolé derrete e o vento carrega o cheiro de menino arteiro para as narinas da jovem grávida. Ela, aliança nova no dedo e a cabeça cheia de planos. O marido – pensando apenas no futebol – dá um sorriso e relembra o último gol de seu time.
Um tal de Bug Bug Bye Bye toca lá fora... Bug é sapo em inglês, logo percebo que a milionária Ivete enriqueceu dando adeus para um anfíbio. Ah! Maysa, do jeito que as coisas andam, o mais sensato é cair - com sua música - na fossa.

Conto 4 (Inúteis Fatos Reais)

Agora Cazuza me convida seguir uma viagem em “Um Trem para as Estrelas”. - Ainda é dia! Eu respondo. - Quero ver o sol ou pelo menos o céu azul.
Os barquinhos parecem formigas na imensidão, eu, uma astronauta cheia de apetrechos encima da mesa. Roupa quente em dia de verão. Ousadia é rimar sem métrica e criticar o Axé nesta estação.
Peixinhos de brinquedo são abandonados na areia da praia. - Mamãe, eles morrem fora d’água”? Pergunta a menininha de pés descalços. Queria sinceramente que a mãe respondesse: eles morrem sim, tem que cuidar e dar muito carinho. Mas ela se resume em resmungar com má vontade: - Morre não, é de mentira!
Que triste! Logo, logo a menina vai pensar que Papai Noel não existe... Falta encanto, sobram fatos reais. Nada importa, temos na TV futilidades demais.

Conto 5 (Vende-se)

Era uma casa de praia sem areia no chão, sem correria de crianças, com sofá vazio e fogão desligado. Sozinha, naquela imensidão inadequada.
Encontro marcas de pés pequenos na parede da frente. Nos quartos, vejo quadros de dicas para viver bem. Olho a data: 1995. Olho detalhadamente as marcas e descubro que os pés pequenos eram meus. Sem peso na consciência, sigo nada que os quadros mandam. Estamos em 2009.
A mesma praia, a mesma casa e novos medos. Antes, o quintal era o refúgio. Hoje, a placa Vende-se amedronta. Outras pessoas sonharão meus sonhos na cama empoeirada.
O vídeo-game nem espera por mãos aflitas. Minhas primas seguiram sua vida. A rede, vazia.
Casa de praia e nenhuma cerveja na geladeira fantasma. Não há música, nem desenhos de sol no chão. A única coisa que encontro é Renata de cara com o passado, ouvindo o Barquinho, relembrando a infância e o verão.

Conto 6 (Ainda é Janeiro)