segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Zona do Coração



É muito difícil passearmos dentro de nós mesmos. Há caminhos desconhecidos e portas trancadas. O que sabemos de nós?

Às vezes é assim que se dá comigo: quando não há o que fazer, quando tudo me parece igual e não sei aonde ir, quando os caminhos parecem estar fechados, olho para dentro de mim mesma, para lugares que ainda não conheço. Sinto vontade de passear por ali.

Há em mim lugares desconhecidos, por onde caminharia horas a fio, sem nunca por os pés onde já houvesse pisado. Em alguns marcharia forte, para sacudir a poeira e espantar a mesmice; em outros, apenas levitaria, para não despertar o que deve permanecer adormecido.

Há caminhos nos quais a grama já não cresce mais, outros por onde ninguém nunca andou, e outros meio esquecidos, com o mato crescendo e invadido as veredas. Pois é nessas veredas que ronda o perigo. Tenho medo de caminhar entre teias de aranha, lugar lúgubre onde fantasmas rondam, arrastando correntes.

Depois de horas de passos incertos, chego aonde não queria: à porta do coração. Bato, receosa do que vou encontrar. Nada, está vazio. Há tempos está assim. Dou uma arrumadinha, tiro a poeira e o deixo prontinho para receber alguma visita. Quem sabe um novo amor? Reescrevo, nas paredes tingidas de vermelho, uma velha frase, na esperança de que alguém um dia a leia e se comova.

Mas não gosto de permanecer muito tempo olhando meu coração. Dá pena!

O que se passa com esse pobrezinho? Às vezes é esperto; às vezes, bobão. Quando acha que sabe das coisas, é quando mais sofre.  E daí fica andando de um lado pro outro, batendo descompassado, trepidando, brincando de esconde-esconde no meu peito. Ora se aninha num canto, ora salta pela boca, ora quer pular.

Saio, para voltar sabe Deus quando! Mas não tranco a porta; deixo-a entreaberta. E onde guardo a certeza do amor, a sete chaves, na soleira eu estendo um tapete vermelho.

Desisto, então, de caminhar com os pés. Passeio melhor com as mãos, ao sentar ao meu notebook e deixar que os dedos deslizem pelo teclado e rabisquem letras para penetrar em algum sentimento.

Na zona do meu coração, na porta, bordei no tapete vermelho: Bem-vindo! A casa é sua!

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